
Publicado na edição impressa do dia 06/03/2025
Se ao ser perguntado sobre que tipo de música você gosta, sua resposta não for “sou uma pessoa eclética, escuto de tudo”, você já ouviu falar de algum desses festivais: Wacken Open Air (Alemanha), Rock in Rio (Brasil), Hellfest Open Air (França), Graspop Metal Meeting (Bélgica), Dynamo (Holanda).
São festivais lendários de Rock n’ Roll ou de seus filhos bastardos: Hard Rock, Heavy, Thrash, Death, Doom e outros. A genealogia do Metal é extensa, mas o folder do evento ajuda por si só.
Nossa cidade tem conhecedores incríveis sobre o assunto. Três deles, inclusive, nos brindam todo sábado à tarde com um programa na Rádio Cidade (Rock in Concert), que já dura 313 semanas. Bom, não sou um desses conhecedores, então não falarei sobre qual estilo nasceu primeiro, quais bandas melhor representam cada gênero, ou quem tem os riffs mais épicos, vocais mais agressivos e letras mais memoráveis. Moldar estilos de Metal é para poucos; entendê-los, para menos ainda. Mas e daí? Eu gosto mesmo é da bagunça.
Voltando aos festivais, sabem o que eles têm de coincidência com o Otacílio Rock Festival que acontece no próximo final de semana? Estão no ar há mais de 15 anos. Décima sétima edição, no caso, do nosso. É isso mesmo, o Otacílio Rock Festival que vai acontecer no parque do Cambará, neste final de semana, é um dos festivais de Rock mais longevos do mundo. É um feito extremamente impressionante. Todos que têm ou já tiveram algum negócio, seja ele qual for, sabem que permanecer ativo por tantos anos, fiel àquilo que ama, não é tarefa para quem escuta qualquer coisa.
No ano passado, em Vitória (ES), conheci um metaleiro que vem há mais de 10 anos no nosso festival. Ele explicava aos outros como era Otacílio Costa e o nosso festival. Digo a você, leitor, que não sei ainda como agradecer a Nani, o Denilson e o Elienai por me proporcionarem essa experiência.
Estudos de neurociência mostram que o heavy metal, por suas características intensas, ativa uma parte do cérebro que é mais difícil de acessar. Uma vez exposto a essa sonoridade, dificilmente o metaleiro voltará a se contentar com músicas menos complexas, digamos assim. Aquele refrão que é constantemente repetido na música popular, dá lugar a um único e poderoso momento numa música já repleta de momentos épicos. Há quem chame de 'gritaria do demônio'. Mas eu digo que não há como explicar a emoção de ouvi-la, seja num festival lotado ou no carro na sinaleira.
Voltando ao nosso festival, imagine que você tenha alguma angústia, aflição, dor, raiva ou desespero, e que, por alguns segundos, a música consiga acessar esses sentimentos. E que uma vez acessado, fosse possível externalizá-lo, tocando uma guitarra imaginária, chicoteando a cabeça no ar, sentindo a vibração dos amplificadores no peito. Agora, olhe ao redor. Olhe as pessoas. Olhe a banda e grite até a voz falhar. Imagine isso e vai entender um pouco do porquê a expressão “um show de Rock pode mudar o mundo” não diz respeito ao mundo inteiro, mas ao SEU MUNDO.
Uma atmosfera repleta de pessoas independentes, curiosas, criativas e autênticas. Algo que meio que regula as emoções, reduz o estresse, nos permite resistir ao meio caótico em que, por vezes, vivemos e nos põe à espera do próximo evento. É uma forma de pertencimento, que para pessoas com valores mais convencionais ou avessas a essa estética, pode soar agressiva e desordenada. Contudo, não haverá nada de desordenado no Cambará neste próximo final de semana, não haverá brigas, não haverá lixo no chão, nem roubos e muito menos banheiros imundos.
Nunca houve, e não haverá, qualquer incidente violento no Otacílio Rock Festival.
Mas haverá, isso sim, a presença de algumas das pessoas mais formidáveis que conheço. Na frase lendária do meu compadre Borga: “Essas pessoas se vestem, pensam e gostam do que eu gosto; aqui estou no meu lugar”.
Post Scriptum: Substitua 'lendário', 'incrível', 'épico', 'memorável', 'impressionante', 'intenso' e 'formidável' por uma única palavra (que não posso escrever aqui) e releia o texto. 🤪🤘🎸.
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