Coluna publicada dia 27/11/2025
Na TV, a notícia de que os sinos da Catedral Metropolitana de Florianópolis voltaram a tocar. Isso evoca uma lembrança em quem morou por décadas ao lado da Igreja Matriz de Otacílio Costa e por muito tempo escutou os sinos tocarem às 6h da manhã, ao meio-dia e às 18h. com o tempo estes acordes ficaram restritos à antecipação da missa e outras ocasiões especiais.
O som das badaladas traz um eco de saudade e fico em contemplação quando escuto estes acordes de qualquer outra igreja ou cidade – embora para muitos este som passe despercebido, sem nenhuma emoção.
A obra Os Pilares da Terra, do escritor britânico Ken Follet, conta a história da construção de uma catedral gótica na fictícia cidade de Kingsbridge, ambientada na Inglaterra do século XII, envolvendo 100 anos, com personagens que buscam liberdade e riqueza, enfrentam conflitos como o desprezo da nobreza, a ameaça do tribunal da Inquisição, a peste, a intolerância religiosa – representações da realidade da época. A beleza da catedral era acompanhada de um relógio carrilhão que fazia a melodia dos sinos para a cidade.
Falando de catedrais históricas é que voltamos à Nossa Senhora do Desterro de 1678 para lembrar a construção da pequena e rústica ermida, feita de pedras e barro dedicada a Nossa Senhora do Desterro, que se transformaria em catedral em 1903. Sofreu reformas entre 1753 e 1773, ampliação em 1922 e várias outras nas décadas seguintes.
É um monumento que testemunha a história de Florianópolis desde que era uma simples póvoa, passando pela evolução e crescimento da Capital, sendo palco do cotidiano da cidade, de manifestações políticas, históricas e culturais.
Seus cinco sinos de aço voltaram restaurados para unir-se aos outros dois nas torres da Catedral. São sete sons a ecoar e inundar o centro da cidade, rodeada pelo barulho do trânsito e outros próprios de uma metrópole.
O escritor norte-americano Ernest Heminguay usou a frase do poeta inglês John Donne ‘por quem os sinos dobram’ para nomear sua obra-prima. Nela relata a guerra civil espanhola, da qual o escritor participou. John Donne (1572-1631) quis falar do absurdo da guerra, principalmente a guerra civil, travada entre irmãos: “Quando morre um homem, morremos todos, pois somos parte da humanidade.”
Heminguay fala de personagens que estranham e se estranham desempenhando os papéis bizarros que se viram obrigados a assumir durante a guerra, e fraquejam ao ver nos inimigos seres humanos que poderiam estar em qualquer um dos lados da guerra. “Não pergunte por quem os sinos dobram, eles dobram por ti.” Diria John Donne e depois Heminguay ao finalizar a obra.
No toque dos sinos está um instante e também toda a eternidade. Os sinos dobram pela vida, pela morte, pela celebração. Que sua música alcance os corações mais duros, pois ela já toca e emociona os corações dispostos a apreciar seus acordes. Das pequenas capelas às grandes catedrais, os ecos dos sinos trazem uma mensagem que transcende o tempo e a história da humanidade.
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