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_Coluna publicada na edição do dia 20/03/2025_
O que é o corpo senão a veste da alma? É ele que nos traz à luz, nos leva a viver emoções e aprendizados e nos enterra no final. Durante a caminhada topamos com toda sorte de acontecimentos bons e ruins. Que alma damos a eles é que faz toda a diferença, para o bem e para o mal.
No dia 5 de abril de 2024, a poetisa e escritora Roseana Murray foi atacada por três cães da raça pitbull, ainda cedinho, quando caminhava perto de casa, em Saquarema- RJ. Ela sofreu várias cirurgias e sobreviveu, tendo como sequelas físicas mais graves a perda de um braço e de uma orelha.
Depois de seis dias do acidente, com o corpo dilacerado, ela dava entrevista, demonstrando uma disposição e uma vontade de viver surpreendentes: “Vou ter que aprender a escrever poemas com a mão esquerda, mas a vida vai continuar, eu não morri.” A partir daí, enfrentando dores físicas e emocionais, Roseana escreveu dois livros.
Após a experiência de quase morte, na obra ‘A Morte Sobre o Corpo’ a escritora fala de sua caminhada de transformação e cura por meio da poesia: “A morte sobre o meu corpo não conseguiu me levar. Talvez pesasse muito a minha chave da poesia, a que carrego no pescoço. Fiquei ali na rua, abraçada com as pedras.” A obra destinada a adultos reflete sobre o poder do amor e da arte de transcender a dor – foi dedicada aos profissionais do hospital que assistiram Roseana.
Ao programa de TV Fantástico, do último 16 de março, ela disse: “Colocar a minha dor em poesia me faz muito bem”. “A literatura salva, a arte salva, sempre.” Com este pensamento, ela lançou o livro infantil ‘O Braço Mágico”, no qual fala de perdas: “Não é nada demais ter um braço faltando. Aprendi com a poeta a arte de perder – perder não é nada sério.” Neste livro, dedicado aos netos e às crianças, diz: “Um dia, esse é o maior sonho da avó, ela ganhará um braço biônico azul.”
A filha de imigrantes judeus e poloneses, do alto dos seus 74 anos, cabelos tingidos de vermelho, sorriso no rosto, prossegue sem lamentos, escrevendo agora com a mão esquerda letras tortas, quase infantis, dizendo que, “apesar da dor, dá pra seguir em frente.”
Como ela se apresenta tão entusiasta com a vida, apesar de tudo? Como transforma dor em poesia? Ela sabe de algo de que não sabemos? De algo que não alcançamos? De que esta mulher ferida reveste sua alma?
“Na verdade, com dor ou sem, vou vestida com as cores de quem enganou a morte. Vou com as cores radiantes da vida.” Talvez precisemos de mais poesia, de mais literatura, de mais arte – para alcançar alguma sabedoria, alcançar tanta superação.
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