Na ensolarada tarde deste 9 de Junho o cheiro e o sabor das tangerinas se misturam ao cheiro do pinhão cozinhando, a panela chiando. À frente vejo o queijo colonial e os ovos produzidos num sítio aqui pertinho. À vista estão caquis, tomates e alfaces colhidos no quintal de casa, mais as maçãs da região. O frio dá o toque na estação de outono, aquecida pelo café quente,

Na TV Justiça, ao vivo, acontece o interrogatório de réus na ação que apura tentativa de golpe de Estado – Ação Penal 2668 – relativa aos acontecimentos de 8 de janeiro de 2023; em que as sedes do Congresso, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal foram cercados, atacados e vandalizados por cerca de 4 mil pessoas que exigiam ‘intervenção militar’.

Além do ataque ao patrimônio público houve ataques a policiais, sendo o mais grave o que desferiu uma barra de ferro na cabeça de uma policial - destruindo seu capacete. Também constam das acusações ataques à sede da Polícia Federal em 12 de dezembro de 2022, em Brasília - DF por parte do mesmo grupo, que acampava por lá desde novembro daquele ano a janeiro de 2023 com cartazes pedindo intervenção federal, ou a volta da ditadura militar. Explosões, ônibus e carros queimados, entre outras destruições. 

Enquanto isso o pinhão cozinha. Enquanto isso acontece em Lages-SC a 35ª Festa do Pinhão, que envolve música, dança, comida típica e shows locais e nacionais. O frio serve de tempero. Se temos um alimento nativo como a semente da araucária em quantidade para uma festa, isto é história.

Uma história que passou pela época em que os indígenas ou povos originários da Região Sul eram os principais consumidores desta iguaria; depois ela sofreu perigo de extinção com a massiva exploração da madeira a partir dos anos 1930 e, por fim, as leis vigentes que ajudam a preservar e multiplicar as araucárias.

A paçoca de pinhão e o entrevero são alguns dos muitos pratos originados do pinhão, mostrando que em torno de boa gastronomia se fazem amizades, amores e festas. As festas agregam cultura e diversão, ponto de encontro numa terra de homens e mulheres de muito estudo e trabalho duro.

A riqueza daquilo que se colhe enquanto povo, enquanto cidadão, está naquilo que se cultiva. Também está no que se deseja para o presente e o futuro pessoal e coletivo.  O que vejo na mesa é fruto, é colheita. O que vejo na TV também é. Cada um desfruta o que planta. O pinhão está cozido, quente e saboroso.