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Coluna publicada na edição impressa do dia 17/04/2025
Eu odeio cidades grandes. Todas as quinze que o Brasil tem com mais de um milhão de habitantes, sem exceção.
Então, quando fico sabendo que, com 2,4 milhões de habitantes cada uma, Fortaleza e Salvador disputam todo ano para ver qual é a maior do Nordeste... só consigo pensar: estão disputando qual delas eu odeio mais.
As que ficam perto do mar têm uma ou duas avenidas litorâneas ajeitadinhas e, logo depois, viram aquele amontoado de gente, pichações e lixo — como se a beleza só coubesse à beira-mar. As que não têm mar, exibem dois ou três bairros arborizados e bonitos, cercados por construções irregulares e prédios horrendos. São todas iguais. Quando as cidades crescem, ficam iguais.
Ainda bem que nós, catarinenses, além de sermos abençoados com a mais nobre entre mil, o mais importante pedacinho do Brasil, não temos nenhuma cidade com mais de um milhão de almas.
Mas é claro que eu sou um pouco bicho do mato — um pouco não, muito. Você acredita, querido leitor, que já estou há duas semanas em Fortaleza e as pessoas com quem cruzei mais de duas vezes na rua não respondem ao bom-dia?
Esses dias, no café da manhã do hotel, estavam dois casais do interior. Ficamos amigos, é claro. Reconheço as pessoas instantaneamente, é um dom — não resisti ao trocadilho com o filme do Jurassic Park. Minha filha e eu temos essa brincadeira há muito tempo: analisar as pessoas e pensar no que estão fazendo ali, em público, naquele momento. Gente de cidade grande não tem nada de legal para ser analisado. Acordam muito cedo, chegam muito tarde em casa. Não é culpa delas — é a cidade grande que lhes impõe isso. “Um espaço de opressão e desencanto”, como disse Mario Vargas Llosa (falecido em 13/04/2025).
É curioso como os moradores das capitais — principalmente os paulistanos —, quando questionados, respondem: “Mas é uma cidade que tem tudo ao seu dispor, tudo 24 horas.” Isso é verdade. Mas a pergunta que realmente importa é: quanto disso a maioria aproveita?
No fim das contas, não importa qual seja o trajeto até o trabalho (que normalmente é sempre o mesmo) nem os lugares frequentados (que também tendem a ser os mesmos). Do muito que se oferece, aproveita-se muito pouco (com exceção do barulho). E, proporcionalmente, bem menos do que o cidadão de uma cidade pequena desfruta da sua.
Isso vale para as amizades, os jantares com parentes, os cafés compartilhados com vizinhos. Aquele churrasco com os amigos, por exemplo, é praticamente inexistente nas grandes cidades. Não que não haja opções — o que não há é ânimo para vencer o cansaço do dia a dia. A rotina frenética, as milhares de ruas idênticas e os prédios superlotados impedem a criação de vínculos.
Mecânicos, eletricistas, atendentes, vendedores... reduzem seus clientes a números, não a pessoas. Conversando com o rapaz que é faz-tudo aqui no hotel, ele não soube me dizer a última vez que passou uma tarde na praia, foi ao cinema, saiu para jantar ou foi a um jogo de futebol. Quando consegue, seu lazer se resume a uma ida à academia.
Quanto a mim, mudo de avenidas, mudo de trajeto, busco entender qual é o apego que essas milhões de pessoas têm em viver aqui — e não encontro.
Salve, salve a minha terra. Onde a hombridade e a nobreza ainda são a regra. Onde a beleza e a gentileza ainda existem. Por aqui há o céu e as estrelas brilham, só não sei se têm orgulho de encobrir essa violência e essa falta de empatia. Só não sei se os casais aproveitam o esplendor do luar — ou se ele enaltece o que está por vir.
Verdes campos por aqui não existem, e muito menos passarinhos — além das pombas. Quanto aos heróis em monumentos, esses sim, há muitos nas cidades grandes. Infelizmente, na maioria das vezes, esquecidos, pichados e emporcalhados. Quando não, ocupados por viciados ou por pessoas em situação de rua.
Entendo que muitos deixam as cidades pequenas em busca de maiores oportunidades. O que não entendo é o preço que pagam por esse “tudo”. Ou será que sou eu que vejo tão pouco?
Grande minha terra. Feliz de mim, que de ti vim. És tu, realmente, o mais importante pedacinho do Brasil.
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