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Dia das Mães e o futuro que carregamos

Coluna Publicada no dia 01/05/2025

Já vou logo avisando, esta será a conversa mais inútil que teremos. Principalmente para vocês, queridas leitoras. De pouco ou nada adiantará para quem tem mais de 20 anos. E tenho quase absoluta certeza de que ninguém na faixa dos 20 anos lê esta coluna (incluindo aqui meus filhos rs). Dito isto leitor, é por sua conta e risco que continuas a leitura.

Contudo, todavia e, entretanto, com o Dia das Mães se aproximando, seguem comentários sobre um dado divulgado em fevereiro deste ano pelo Ministério da Saúde, do qual este colunista tomou ciência apenas nesta semana:

“O número de partos em meninas de 15 a 19 anos, em 2023, foi de 289.093 (11,39% do total de partos registrados) e em meninas de 10 a 14 anos foi de 13.932 (0,55%), segundo dados do DataSUS.”

É claro que para todos aqueles que têm mais de 20 anos, não precisamos lembrar que relação sexual com menores de 14 anos é crime: estupro de vulnerável. Outra questão que talvez não seja necessário falar é que esta situação afeta muito mais as meninas pobres e com menor grau de instrução. Outro dado que não parece surpresa, é que 30% destas meninas nem estudam e nem trabalham.

Com esses dados em mãos, podemos inferir (ou seja, uma hipótese: sem verificar com rigor as premissas) que, no mínimo, 10% da população brasileira continuará pobre e com deficiência educacional pelas próximas décadas; não importa quais ou quantos programas sociais sejam implementados. Seja pela necessidade de parar os estudos, ou pela interrupção do trabalho que já era temporário, ou pela solicitação de auxílio a amigos e parentes, ou simplesmente pela diminuição do padrão de renda; podemos acreditar, quase com certeza, de que a vida dessa menina ficará mais difícil após a gravidez.

Não foi possível encontrar dado semelhante acerca da condição financeira, de idade e de escolaridade dos pais dessas crianças, mas não esqueçamos: a ausência de informação, também é uma informação. É possível que todos eles tenham cumprido com o papel que se espera de um homem. Que além da parte dos seus ganhos financeiros tenham dedicado atenção, afeto e dado o suporte que este momento e os anos que se seguem requerem. Sim, é possível. Porém, é mais provável que esse parágrafo soe tão ou mais sem sentido que o restante dessa conversa. Ou, pior ainda, que soe sarcástico.

Também não vamos querer que esta conversa pareça uma convocação à não-gravidez. Pelo contrário, quando eu tinha 18 anos, meu maior sonho depois de poder dirigir era ser pai. Felizmente não encontrei nenhuma pretendente disposta a embarcar nessa aventura em que as consequências são muito mais brandas para um lado do que para o outro. Digo ainda que segurar seu filho pela primeira vez é, sem dúvida – e de longe - a experiência mais impactante da vida. Como disse o personagem Stárietz Zósima em "Os Irmãos Karamázov": As melhores lembranças da infância são as da casa paterna, desde que reine, pelo menos um pouco, o amor e a concórdia. Eu complementaria dizendo que para os pais também. Raras lembranças da vida são melhores do que aquelas dos nossos filhos pequenos.

Uma outra perspectiva, tão ou mais cruel que a perpetuação da questão educacional/financeira: Qual porcentagem desses mais de 300 mil bebês, nascidos de outras crianças, passarão o Dia das Mães que se aproxima num lar onde reine, pelo menos um pouco, o amor e a concórdia?

Com tudo isso também não queremos afirmar que a gravidez precoce é uma condenação à pobreza e à ignorância. Com certeza, principalmente no estado em que moramos, podemos contar algumas histórias de superação ou mesmo de pouco impacto. Mas só o mais leviano de nós afirmaria que a vida não ficou mais difícil para a jovem mamãe de primeira viagem.

Eu avisei que era uma conversa inútil. Então se você leu até aqui, não lhe peço desculpas e nem terminarei com algum tipo de chamado à ação. Pois eu mesmo não faço ideia do que poderia ser feito.


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