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Jorge Bergoglio seria somente um argentino fã de futebol, torcedor do San Lorenzo, se não tivesse abraçado a vida religiosa? Provavelmente não, pois para ele o céu era o limite. Padre aos 32 anos, professor de Literatura e Psicologia, reitor de universidade, chefiou a Companhia de Jesus na Argentina. Foi bispo, arcebispo e cardeal até se tornar o primeiro jesuíta eleito o 266º papa da Igreja Católica, soberano da Cidade do Vaticano e Bispo de Roma - como preferia ser nominado.
Primeiro latino-americano a ocupar o cargo, escolheu ser chamado Papa Francisco em homenagem ao santo protetor dos animais, da natureza e dos pobres: São Francisco de Assis. O santo italiano fundou a ordem mendicante dos Frades Menores, ou franciscanos, e foi exemplo de vida simples e de amor e caridade com os necessitados.
Francisco, o homem que globalizou a esperança, conquistou os fiéis já na posse do papado, ao dizer ‘boa tarde’ em espanhol na janela do Vaticano e declarar que os cardeais que o escolheram foram buscá-lo no fim do mundo. Começou quebrando protocolos e barreiras para o entendimento entre pessoas e povos. Terminou clamando pela paz - essência do seu pontificado.
É emblemático saber que Roma, sede de uma das civilizações mais poderosas da história, há dois mil anos, tenha se tornado o centro de uma religião fundada nas palavras de um homem simples como Jesus, que se intitulava pescador de homens.
Um domínio de 500 anos - feito de homens cruéis e poderosos como Tibério, Nero, e Calígula - que estendeu seus tentáculos da Europa para a Ásia e África; o Império Romano – que perseguia e matava seguidores de Jesus - sucumbiu sem deixar rastro e no seu seio se instalou uma cidade-estado, governada pelo chefe de uma religião cristã. É curioso que aqueles imperadores déspotas recebiam aplausos do medo de um povo que eles oprimiam pela força e pela fome, enquanto Francisco - o Bispo de Roma - foi aplaudido pelo povo que o amava, confiando na sua mensagem.
O Papa Francisco se dizia pastor e não chefe de estado. Despojou-se da suntuosidade do cargo que apresentava seus antecessores numa embalagem majestosa, muito séria e formal. Com seu bom humor, usava metáforas do futebol em suas mensagens. Emocionado pelo carinho recebido dos brasileiros em sua visita de 2013, disse, diplomático e divertido: “O Papa é argentino, mas Deus é brasileiro.”
Seguindo as duas máximas deixadas por Jesus: “amar a Deus sobre todas as coisas” e “amar ao próximo como a si mesmo”, Francisco caminhou muito para cumprir estes mandamentos e, quando não pode mais andar, continuou sua missão de cadeira de rodas. Percorreu 65 países em 12 anos, visitou as periferias, pediu pela união de crenças, países e pessoas, pregou a preservação do meio ambiente, a aceitação das diferenças e amparo aos menos favorecidos; além de clamar incansavelmente pela paz.
Francisco condenou a intolerância, o racismo, a corrupção, a pedofilia, a brutalidade das guerras e criou a exigência de ficha limpa para cardeais. “Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal e, de modo particular, em favor dos mais pobres e marginalizados.”, disse o camerlengo Kevin Farrel ao anunciar a morte do pontífice.
O torcedor de futebol apaixonado, o religioso carismático e influente que quebrou padrões para criar mudanças significativas nas formas de ver o mundo e viver a religião, o que amou incondicionalmente a humanidade - deixou a vida durante a Páscoa, não sem antes deixar uma mensagem de paz a todos: “... não podemos estacionar o nosso coração nas ilusões deste mundo, nem fechá-lo na tristeza; temos que correr, cheios de alegria...”
“Todos são bem-vindos, porque a Igreja é uma casa universal de acolhimento.” Assim falou o Papa missionário, de riso solto, de “pés no chão e coração no céu”, revestido de compaixão. Assim Francisco, o Bispo de Roma que incorporou a simplicidade de Jesus e daquele outro Francisco - o de Assis; o Papa do fim do mundo que quis a fé comprometida com as boas ações, honrou como poucos as sandálias do Pescador.
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