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Resta saber até quando: o Brasil que não se conhece.

Sou um defensor intransigível da liberdade de expressão. Não sou daqueles que acreditam que haja coisas que podem ou não ser ditas. Contudo, somos responsáveis pelo que dizemos, pensamos e fazemos. Acredito também que quando uma besteira muito grande é dita, comentar sobre ela só dá mais visibilidade à criatura que a disse. Mas partindo da ideia de que aqui, nesta coluna, conversamos livremente sobre os assuntos do momento: abriremos uma exceção. Só por dizer isso já me sinto mal e falarmos sobre “influenciadores” – algo que nem sei o que significa – me constrange ainda mais, todavia, sigamos.
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Um dos vídeos é de um casal de Pomerode “explicando quatro condições para morar em SC” e o outro de uma moça que rebate usando termos como racismo institucional e assistencialismo dado aos imigrantes e negado aos escravos libertos. Ambos um misto de mau gosto, viés confirmatório e anacronismos; com uma pitada de puro desconhecimento do lugar em que vivem.

Só para situar aquele leitor que porventura não seja de SC, primeiro lembremos que a cultura de uma parte da Alemanha que está em Pomerode, não representa majoritariamente o nosso estado. Em Mafra temos os Ucranianos, em Florianópolis o manezinho, em Nova Veneza - onde fica mesmo Veneza? (já respondido), Joinville até tem muitos alemães só que, com uma pegada metalmecânica bem diferente. Em Chapecó encontramos os poloneses e nessas nossas pastagens de Otacílio muitas outras histórias. Não seria desproposital lembrar que – geralmente - sou identificado como gaúcho aqui no Nordeste, onde hoje escrevo.

Vamos nos divertir um pouco e escrever alguns comentários dos vídeos:

“Catarinense é mais sério e mais fechado”: Acho que a moça nunca foi à Curitiba e muito menos à Vitória. “Educado”? Pode ser, mas o DF tem menos analfabetos. “Ordeiro”? É, mas a taxa de homicídios de SP é menor. “Trabalhador”? Sim, mas como já citamos, nosso PIB é só um pouquinho maior que o baiano. “Não confia fácil em ninguém” é uma expressão que serve à nossa espécie desde os macacos, que também não se relacionam com muitos outros indivíduos ao longo da vida. 

Qualquer desculpa serve para segregar ou mesmo eliminar o que tememos. Assim como a idade da pedra não acabou por falta de pedras, os Neandertais (e outros hominídeos) não desapareceram por falta de comida. Nós – Homo sapiens – é que descobrimos melhores maneiras de eliminar nossos primos. Seja por conta do cheiro, da religião, do time de futebol ou do bairro onde moravam. Só que, atualmente, culpar o DNA não resolve. É preciso reconhecer nossa ignorância em entender que buscar melhores condições de vida – com migrações - é também algo intrínseco ao ser humano.

“Amamos festas, trajes e raízes”: Sim, os Cariocas e os Paraenses também. Pernambuco está no Guinness Book inclusive, com o São João de Caruaru. Particularmente, nem gosto de dançar, que dirá “de fritz” ou de bombacha, contudo, gosto de chopp e churrasco: Posso continuar sendo catarinense? E os meus filhos? Dos oito bisavôs deles, dois eram alemães, um era índio, um negro e quatro eram brasileiros (ou essa NINGUENDADE que o Darcy Ribeiro tão bem definiu).

Quanto ao conservadorismo, já falamos disso também. Cidades pequenas tendem a ser mais conservadoras e nós as temos às centenas. Também é um fato não termos sido governados pelo PT e que até esses dias atrás tínhamos três lojas de armas em Otacílio. Mas lembrando à moça do outro vídeo, disso, a pintar uma suástica no fundo da piscina - tem um abismo.

O arremate é sobre não buscar em SC o assistencialismo estatal – destaque para a expressão de ódio e arrogância da mocinha, que lembra a foto clássica do Che Guevara. Coitados dos alemães orientais se os ocidentais pensassem da mesma forma ao final da II Guerra.

Mas esse foi o grande gancho para o vídeo contrário. Sob o comentário de que foi um racismo institucional (Darcy se remoeu no túmulo, de novo!) que privilegiou a população branca europeia. 

Oras, D. Pedro II viajou o mundo chamando e incentivando migrações. Inclusive em muitos países africanos e eslavos (sim, esses também eram escravos). Ele sabia que precisava colonizar o país ou este se fragmentaria ainda mais. E claro, ofereceu terras para isso. Após a abolição erramos em não oferecer terras aos negros, erramos por 300 anos com a escravidão e nesse caminho moemos o quanto pudemos os nossos índios. Mas não oferecer terras aos europeus que vieram para ficar, teria resolvido tanto quanto tomá-las agora dos seus descendentes.

Já passa da hora de compreendermos que não existem “nós e eles”. Que a ignorância segrega mais do que a cor da pele. Que não existem raças no Brasil. Na verdade, nenhum cientista sério atualmente defende o conceito de raça. Todos os humanos vivos descendem do Homo Sapiens. E todos aprenderam geneticamente que matar e segregar é útil à nossa dominância enquanto espécie. Resta saber até quando.


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