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O Sabão Não Limpa Sozinho

Já conversamos sobre como o conhecimento está em todo lugar e quer ser entendido.

Já comentamos como personagens de livros podem transmitir conhecimentos técnicos por meio de histórias. Algo que Victor Hugo fez magistralmente em Os Miseráveis e, mais recentemente, Eliyahu Goldratt em A Meta — ambos sobre os quais o querido leitor e eu já conversamos.

Há tempos eu não fazia uma tarefa que, por décadas, foi um dos meus passatempos prediletos: lavar o carro. E o quanto se aprende com isso — ou cozinhando, ou lavando louça. Iniciar, planejar, executar, monitorar e encerrar. A alegria do trabalho bem-feito é impagável.

O leitor familiarizado com práticas de produção certamente acrescentará outros exemplos. Comentará sobre como o autor desconhece tal ou tal segmento — e, claro, esse é o grande intuito desta coluna.

Lembre-se: compartilhe seus conhecimentos! Com o desinteresse crescente pelo estudo formal, essas histórias se tornam ainda mais valiosas.


Minha afilhada — a amada do Dindo — vê colegas trocando a escola pelo trabalho precoce: e quantos talentos se perdem nessa escolha? Haverá um futuro brilhante aguardando por ela e por todos aqueles que se dedicam à leitura, no mesmo passo em que o caminho dos que só trabalham será mais árduo.

Assim como é mais árduo — e menos produtivo — o trabalho de quem ara a terra sem conhecer o solo.

Somente através da leitura temos acesso a questões complexas. Primeiro estudamos. Depois relacionamos o conteúdo a questões triviais do dia a dia. Em seguida, conseguimos explicá-lo de forma que outros também compreendam. E só depois disso, passamos a conhecer.

Não há atalhos: ver alguém explicar algo não basta.

Vamos a um exemplo. Dividir um trabalho em etapas menores: útil ao montar um quebra-cabeça (separar por cores, bordas, formatos), lavar um carro (primeiro enxaguar, depois o teto, a parte interna) ou lavar louça (itens maiores, vidros, água quente para economizar recurso).

Entender e executar isso é importante. Contudo, é apenas uma pequena parte dentro das cinco maiores (já citadas) que envolvem o ciclo de vida do gerenciamento de qualquer projeto sério.

Claro, não se exige um certificado PMBOK para lavar um carro — mas a ausência de noções básicas permite as aberrações urbanas que vemos por aí.

Não é preciso dominar Fordismo e Toyotismo, mas aplicar conceitos práticos é vital. Caso contrário, a produção dependerá da expertise ou da velocidade de um ou dois indivíduos. Ou seja: não haverá qualidade. Não haverá valor agregado. E, por conseguinte, não haverá permanência no mercado.

A conta é simples. Hoje, cerca de 12% dos brasileiros têm curso superior e ganham 2,5 vezes mais que quem tem apenas o ensino médio. Algo em torno de 6% fizeram uma pós-graduação (Especialização, MBA, Mestrado ou Doutorado) e estão agora entre os 30% mais ricos do país.

É claro que existem todas as alegrias filosóficas de se saber — matematicamente — identificar o gargalo num processo de produção qualquer. Mas não se engane: essa alegria vem com dinheiro junto.

Saindo do ambiente fabril, vamos às pequenas empresas. Quase 30% fecham no primeiro ano, e bem menos da metade sobrevive após cinco. Por quê? O ambiente empresarial brasileiro é mais hostil? Não.

O que acontece é que falta conhecimento sobre finanças ou administração. Falta um planejamento mínimo.

Acreditamos que RH serve apenas para contratar e demitir.

Gestão do dinheiro, análise SWOT (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças), desenvolver e engajar profissionais — são monstros que atribuímos apenas às grandes empresas.

Na fila do açougue do João, ouvi: “livro não enche barriga”. Talvez. Mas e quando é preciso decidir sem tecnologia por perto? E quando você já viu dezenas de açougues abrirem e fecharem, e o seu continua lá?
Isso é conhecimento — seja ele vindo da universidade ou de décadas de dedicação.

Não queremos dizer que só o estudo formal agrega, mas sim que até os grandes mestres estudaram.

É um fato que o estudo não foi importante para o ganho monetário de algumas pessoas. Assim como também é fato que atividades ilícitas ou imorais podem, às vezes, trazer bons retornos financeiros.

Mas devemos lembrar que, apesar do que pareça, essas pessoas são minoria — e não representam um padrão possível de ser seguido.

Lavar o carro ensina que espuma não limpa sozinha — o estudo também não. Quer o brilho do trabalho bem-feito? Então me diga: que lição você vai ensinar hoje?

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