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Era sexta-feira, antevéspera da Festa e as buzinas vindas de todo lado do país ecoavam pelas ruas, pela rodovia que corta a cidade, em anúncio de chegada. Sábado as buzinas dos caminhões se encontravam, se cumprimentavam, festejavam.

São dias em que até oficinas mecânicas e postos de gasolina são pontos de encontro de caminhoneiros, contagiados pelas festividades que culminam no último domingo de julho, em alusão ao dia 25, dia do santo padroeiro dos motoristas.

Domingo caminhões já buzinavam cedinho, anunciando a Festa de São Cristóvão, enquanto se organizava uma procissão colossal para um município de interior. Feita de carros, motos e caminhões, a procissão serpenteia a cidade até chegar ao local da bênção, em frente à Igreja Matriz.

Buzinaço, é dia de festa: esta que é dedicada ao padroeiro dos motoristas. Histórias contam sobre um homem chamado Réprobo (=mau, perverso, condenado) que queria servir ao ser mais poderoso da terra. Serviu a um rei que teve medo do diabo, então quis servir ao último porque mais poderoso. Até que viu o diabo fugir de uma cruz, o que o levou o homem a servir Cristo.

Morando numa choupana, Réprobo ouviu a voz de criança que lhe pedia ajuda para atravessar o rio. Enquanto atravessava o caudaloso rio com o menino nos ombros, a água subia cada vez mais, tornando-lhe o peso insuportável, quase o afogando. Ao chegar a outra margem e descobriu que levara nos ombros o menino Jesus. Daí o nome Cristóvão: o que fez a travessia de Cristo. São Cristóvão se torna o protetor dos caminhantes, dos motoristas, dos viajantes.

Buzinaço; inicia a missa do grande dia. Chuviscava, mas nada tirava o ânimo das pessoas naquele dia festivo. Padre Darci adentrou a igreja em cortejo, em seguida caminhoneiros trazem nas mãos alimentos e representações do seu trabalho. Lá fora, buzinas e buzinaço.

Hosana nas alturas... Enquanto os braços erguidos saúdam o Pai Nosso, lá fora a chuva cai forte, ecoando dentro da igreja, num momento raro em que as buzinas desaparecem. Não por muito tempo, pois a carreata continua passando... Homenagem à Simone, caminhoneira, que orgulha as mulheres pelo trabalho exercido.

Quase ao meio-dia a celebração termina, mas a festa está apenas começando. No salão da igreja mesas arrumadas esperam o almoço. Fervilha de gente no local que será tomado pelo churrasco, pão, bebidas. Confraternização total. Buzinaço lá fora e bolos de festa coloridos servem de sobremesa.

As buzinas continuam até quase às 13h, quando termina a bênção dos automóveis e motoristas. Foram mais de 5 horas de buzinas ecoando, de buzinaço, de prazer de viver esse instante. Depois vem a tarde-dançante ou domingueira com muita dança no salão, com chance àquele fio de cabelo grudado no paletó e, por fim, o leilão do bolo da Festa que é outro esperado acontecimento.

Todos os rituais deste dia são esperados por boa parte da população que carrega no coração as memórias de tantas festas dedicadas aos motoristas, aos caminhoneiros em especial, por serem muitos aqui neste chão.

É uma memória afetiva impagável, que vem de muito tempo, inclusive aquele em que se comprava ou se costurava roupa nova para a data. Tempos futuristas chegaram, roupas pré-fabricadas, mas o sentimento é sempre renovado, a emoção na véspera dos festejos é um acontecimento à parte, as buzinas são de festa.

O buzinaço faz parte de um povo que comemora o trabalho, o alimento, a vida de forma bem particular e convida para a festa. É momento em que o som das buzinas é de congraçamento, de pertencimento.  É noite, chove lá fora e a festa continua. O arremate e a partilha do bolo são uma festa à parte.

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