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E se a gente resolvesse construir o que ama ao invés de tentar destruir o que odeia?

Uma reflexão sobre a importância de escolher onde focamos nossa forma de ver a vida.

Você já ouviu falar no famoso complexo de Vira-Latas? Foi um conceito criado pelo escritor Nelson Rodrigues para definir uma das seleções brasileiras de futebol que, repleta de craques, sentia-se diminuída ao entrar em campo, e sempre se colocava como inferior diante dos adversários. Embora voltado para o futebol, de certa forma o conceito reflete, um pouco, o que acontece com a maioria das pessoas que confunde a ideia de humildade com pobreza, além de atingir quem tenha problemas sérios com autoestima. De onde será que vem isso?

Uma pista vem da psicologia do comportamento humano, que identifica, no fato de termos nosso foco voltado para o erro, a razão pela qual alguns destes distúrbios se cristalizam. O ser humano, de forma quase subconsciente, volta sua atenção para coisas ruins, erradas ou que não prestam. É por isso que programas do tipo Reality Shows, apesar de serem sempre criticados por uma grande massa, viralizam, fazem sucesso e continuam aí. No mundo das notícias, tente imaginar o que mais atrai a atenção de leitores no mundo virtual. Isso mesmo, tragédias, denúncias, fofocas ou coisas do tipo.

O único motivo para esse tipo de conteúdo sempre captar maior atenção dos veículos de comunicação e terem maior notoriedade é o fato de que o público valida aquilo, pois é o que mais tem alcance. Quem trabalha com produção de conteúdo vê isso na prática: recebe a informação, checa com cuidado, busca preparar um conteúdo positivo, com qualidade, profundidade, pesquisas e, quando publica, pouquíssimas pessoas se engajam no conteúdo curtindo, compartilhando e ajudando a espalhar aquela matéria. Isso quando chegam a ler. O alcance é pequeno. Mas quando o assunto envolve fofoca, denúncia ou tragédia, em minutos o conteúdo viraliza, capta a atenção de várias pessoas e faz a audiência explodir.

Entendeu? Quem valida o conteúdo somos nós, e isso denuncia um modo de vida que mostra o porquê de tanta síndrome, tanto distúrbio e tanto transtorno atormentando essa geração. Fomos programados, desde pequenos, para focar no erro, no errado, nas fraquezas. Isso não é uma questão pontual. É um problema histórico e de cosmovisão.

Um exemplo são os dez mandamentos. A versão do êxodo traz as seguintes ordenanças:

1 - Amar a Deus sobre todas as coisas.
2 - Não tomar seu santo nome em vão.
3 - Guardar domingos e festas de guarda
4 - Honrar Pai e Mãe
5 - Não matar
6 - Não pecar contra a castidade
7 - Não roubar
8 - Não levantar falso testemunho
9 - Não desejar a mulher do próximo
10 - Não cobiçar as coisas alheias

Se você reparar, quase todos são sobre não fazer coisas más? Ficamos nessa ideia e esquecemos que Jesus, quando perguntado sobre essa lista, a resumiu em apenas dois, mudando o foco para algo positivo: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo". Percebeu? Ao invés de uma lista de proibições, um manifesto de positividade. Ao invés de não fazer algo ruim, faça algo bom que vai, naturalmente, evitar que você faça aquele algo ruim. Entendeu? Jesus mudou a chave, mas nós?

Temos que ser bons ao invés de tentar não sermos maus

O psicólogo Roy Baumeister, um dos autores do livro O Poder do Mau, argumenta o fato de que existe uma razão antropológica para se concentrar mais em tentar fazer com que as pessoas não façam coisas ruins do que procurar incentivar que façam coisas boas. Um dos pontos é que os humanos são programados para dar atenção às ameaças potenciais que podem nos prejudicar. Daí surge a noção de que é preciso falar sobre o mau para tentar eliminá-lo.

O problema é que a ideia de que simplesmente evitar o mau comportamento é suficiente para eliminá-lo é um erro. Ela falha no cerne do próprio conceito, uma vez que dizer "não seja ruim" não significa dizer "seja bom". Perceba, o grande problema dessa abordagem focada no "não seja mau" é que ela deixa muito pouco espaço para a esperança de que possamos realmente fazer algo positivo e grandioso. Quando mantemos essa atitude no pensamento é exatamente aí que, muitas vezes, nos sabotamos.

Mas e se mudássemos a chave? E se empregássemos nosso tempo e nossos esforços tentando encontrar as coisas positivas ao nosso redor e nas pessoas? E se resolvêssemos gastar nosso tempo de vida em construir e não em destruir? E se resolvêssemos focar e celebrar os acertos ao invés de ficar concentrados no errado? No incorreto?

Talvez a primeira atitude que você precisa tomar para melhora sua vida seja olhar pra dentro de si, ser sincero e acabar com essa mania de falar mal de tudo e de todos. Ao invés disso, começar a focar e exaltar suas conquistas, sua inteligência, suas metas. E faça isso com as pessoas também. Procure motivos para elogiar ao invés de desmerecer, de simplesmente criticar. Se não conseguir encontrar algo positivo para comentar, decida ficar em silêncio. É incrível a transformação que acontece quando decidimos olhar a vida com as lentes da positividade e da bondade.

Já pensou que loucura seria se ao invés de tentar parecermos bons resolvêssemos nos tornar, de fato, exemplos para uma nova geração que anda tão carente de bons referenciais? E já pensou que loucura se os outros seguissem nosso bom exemplo?

Pois é. Vou contar um segredo: eles - essa geração que a gente tanto reclama - têm referenciais. Somos nós.

Isso o incomoda ou alivia? Viu, às vezes tudo que a gente precisa para melhorar nossa família e a sociedade é... mudar.



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