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Será que vale à pena pagar o mal com o bem?
Há uma questão que assola a vida de todas as pessoas que se agarram ao bem e seguem suas regras para obter reconhecimento e status na sociedade. Em Once Upon a Time, uma série que adapta os contos de fadas para os dias atuais, nem a Branca de Neve escapa do paradoxo cruel que ronda a cabeça de cada ser humano que vive neste planeta.
O conflito que Branca de Neve experimenta num dos episódios da série revela a pergunta crucial que encontra cada um de nós, e a resposta a essa pergunta é o que impulsiona nossa jornada por esta vida: O Bem vale à pena? Quando você se encontra numa encruzilhada entre escolher o bem e retribuir com o mal, qual deve prevalecer? Relevar ou punir, eis a questão? A resposta parece óbvia... até que o envolvido no problema sejamos nós. O Paradoxo é muito menos inquietante quanto não estamos no centro da controvérsia.
É muito fácil emitir uma opinião quando envolve a vida do outro, e nesse caso a resposta demonstra o quão demagogos, hipócritas ou autênticos podemos ser, pois o ser humano tem a tendência egoísta de sempre querer justiça para o outro e misericórdia para si.
Na série, Branca de Neve chega a esse conflito quando, após ter várias oportunidades de ter matado a rainha má, deixou ela viva acreditando que ela poderia mudar, e ainda assim levou mais um golpe da vilã. A rainha, se aproveitando do senso de 'justiça' de Branca de Neve, tomou algo de valor importantíssimo e ainda matou uma de suas familiares mais queridas. Diante do túmulo, Branca entende que talvez seja ela quem tenha que mudar e finalmente pagar o mal com o mal, afinal de contas, ela merece seu final feliz.
É impossível não transportar o conflito para o mundo real e reconhecer o mesmo paradoxo que a fé pode proporcionar, e perceber que infelizmente a única guerra que perdemos é para nós mesmos, e exatamente por negarmos com nossas atitudes aquilo que tanto confessamos com nossa boca.
Falamos de amor, mas muitas vezes não amamos. No máximo produzimos afetos fingidos e superficiais. E não é difícil perceber isso. Amor requer movimento. Amor faz com que eu saia do meu lugar de conforto e vá sofrer com o outro. Faz com que eu vá até onde o outro está e o socorra. Amor significa, às vezes, colocar o dedo em riste e lhe apontar seus erros, dizer a verdade que você precisa ouvir ao invés de concordar pra sair bem na foto. O amor me obriga a fazer mais do que dar alguns tapinhas nas costas dizendo que vou orar por você.
Falamos de não julgar na igreja e julgamos o tempo todo na nossa casa. Na verdade não sabemos nem ao certo no que consiste julgamento e estufamos o peito para sermos os primeiros a condenar aqueles que, na nossa míope opinião, estão julgando. Juízo só acontece quando existe sentença. Denunciar comportamentos errados e confrontar o erro não é juízo. É ajuda. Macular a identidade do outro e aplicar rótulos sim. Falamos tanto sobre juízo e julgamos o tempo todo. Basta a introdução "Você é?" sair da nossa boca que o restante da frase se torna uma sentença de juízo. Não fazemos na igreja, mas fazemos em casa com nossas esposas, maridos, filhos?
Falamos de santidade, mas não queremos a purificação. Falamos em milagres, mas não queremos obedecer. Falamos em unidade, mas falamos mal do irmão na primeira oportunidade que temos. Falamos em fidelidade a Deus, mas não somos fiéis ao nosso líder, seja lá de que título ele se chame. Alguém disse certa vez que pra conseguir inimigos, você não precisa entrar numa guerra. Basta ser autêntico e dizer o que pensa. É irônico pensar que essa frase soa terrivelmente verdadeira no meio de um povo que, em tese, deveria amar e promover a verdade ao invés de propagar seus paradoxos.
O Problema é que a igreja é um corpo, e quando guardo sujeira no corpo, ele infecciona e adoece. E enquanto arrotamos nossa santidade ritual levantando nossas mãos e pulando ao som da canção, ou fazendo nossas orações mecânicas da hora do almoço, a Verdade se perde na teia do comodismo e da hipocrisia. Resultado: O Paradoxo existencial fica à mostra.
Quando nossos motivos e nosso orgulho se tornam maiores do que a cruz, tendemos sempre a enterrar sua mensagem para que a nossa imagem permaneça intocada. Não é irônico que um povo que tem na cruz um símbolo de fé se esqueça diariamente que sua principal mensagem é a morte? Não é um paradoxo perfeito que o povo que se diz conhecedor da Verdade viva na mentira?
Se eu morri com Cristo pela cruz, porque minhas canções exprimem mais minhas necessidades do que adoração a ele? Se eu morri com Cristo na cruz, porque luto pra manter minha imagem de santo intocada? Se eu morri com Cristo na cruz, porque sinto dor quando alguém fala mal de mim? A resposta é muito simples. Se eu sinto, é porque não morri.
Como um amigo meu já disse, muita gente tem medo da verdade, não porque a verdade dói; mas porque gostam de viver na mentira. Na mentira de que não precisam mudar pra ser salvos. Na mentira de que basta dizimar pra prosperar. Na mentira de que se calar frente ao pecado do outro dá a ela o mesmo direito de pecar.
Aliás, isso me traz de volta ao dilema da Branca de Neve. Deus já respondeu a questão e resolveu o problema. A Cruz é onde a fé na mudança e no amor encontra a justiça para o pecador através de uma troca. Se vale à pena se apegar ao bem? Depende? Depende de onde você colocar sua visão. Se sua visão for limitada a este mundo a resposta talvez seja não, mas se sua visão estiver na eternidade, o dono dela diz que sim, afinal de contas, a morte para o cristão é o começo da verdadeira vida que ele almeja.
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