
Vivemos num tempo em que tudo pode ser pesquisado com um toque na tela. Antes dependíamos de enciclopédias e outras fontes que às vezes existiam somente nas escolas ou universidades. A presença de jornais, livros e revistas, além dos livros didáticos ajudavam mas não podiam responder a tudo. Então seria razoável pensar que a gama de informações acessíveis pela internet deixaria todos melhor informados. Mas não é o que acontece.
Exemplo de como as pessoas se deixam iludir por falsas informações: há quem acredite que o nível de audiência de um programa de TV acontece instantaneamente ao ligarmos o aparelho. Assim, o canal a que assistimos seria contado na preferência do público. Com a incitação ao ódio contra este ou aquele personagem da mídia – apresentadores, líderes religiosos e políticos, pensadores - em muitos lares proibiu-se assistir a qualquer programa de determinados canais, para não “dar audiência” a eles.
Esta crença em mentiras é alimentada por pessoas ou grupos que têm interesse em desfigurar a realidade e manipular outras pessoas ou grupos. A ilusão criada da “verdade” tem paralelo em ‘O Mito da Caverna’, obra de Platão – filósofo grego que viveu entre 428 a 347 a.C.
A obra conta a história de prisioneiros acorrentados dentro de uma caverna que veem na parede as sombras das pessoas, dos bichos, da vida lá fora – tudo forjado por quem os aprisiona - acreditando ser aquela a realidade. Um prisioneiro é liberto e tem, no contato com a luz da vida real, dificuldade de crer no que vê. Ao descobrir quão maravilhoso é o mundo, volta pra contar aos outros prisioneiros, mas não acreditam nele, considerando-o louco. Preferem acreditar que a verdade está nas sombras na parede, única informação que chega até eles.
Com esta alegoria Platão quis representar a humanidade que deixa de buscar a verdadeira natureza das coisas para acreditar nas aparências. É mais cômodo ficar na caverna da desinformação, pois é preciso esforço para sair das sombras, adaptar-se à luz para alcançar o conhecimento, que significa libertação.
No processo de educação é que se vence a ignorância do não saber para chegar à verdade, de poder conhecer, de analisar a realidade, valorizando a racionalidade em oposição às crenças que aprisionam o homem às sombras do obscurantismo e do medo.
E se Platão chegasse hoje, o que lhe causaria espanto? O que diria? “Quantas luzes nas cidades! Mas há também escuridão: crianças famintas, crianças mortas por bombas – aos milhares! Povos morando na lama e na poeira em fileiras de barracas. Quase um milhão de crianças sequestradas dos pais no solo da Ucrânia – invadida por uma guerra sem sentido. Que tipo de monstros são responsáveis por tais calamidades? Por que não saem das sombras para tratar outros seres humanos com sabedoria? Não conhecem meus escritos? Ou os de outros pensadores? Num mundo tão moderno deve haver bibliotecas pra todos. O que pensam que estão fazendo? Quem os influencia?”
E a questão da audiência? Uma empresa específica instala aparelhos em TVs de domicílios selecionados, espalhados em várias regiões do país, em diferentes tipos de classes sociais, níveis de escolaridade e variadas profissões - no interior ou nas cidades. Portanto não é qualquer um que ligue a TV que vai ser contado na audiência de canais ou programas.
E então, como sair da caverna das ilusões? Não existem respostas simples, assim como não existem verdades perfeitas e nem donos da verdade. A busca do conhecimento começa na dúvida, na curiosidade. É preciso intenção e vontade para sair da zona de conforto do desconhecimento. Assumir que sabemos pouco é só o começo de uma história de aprendizado que pode ser infinita. Mas é preciso querer.
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