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O LEGADO DE SANTIM ELIZEU FOLCHINI

Devoção pela família, orgulho pela profissão vinculada ao tradicionalismo e amor incondicional por Otacílio Costa, município que adotou como sua ´pequena pátria´. Essas eram as três bases da vida de Santim Elizeu Folchini, falecido no último dia 05. Nascido em 01.11.1937 em Grão Pará, sul do Estado, onde trabalhou como agricultor e aprendeu a fazer e consertar sapatos, ele chegou na então chamada Encruzilhada em 1957, trazendo apenas uma tosca mala feita de madeira, com três mudas de roupas. No bolso, apenas dois cruzeiros.

Santo Folchini, como ficou conhecido, se encantou com a velha Encruzilhada. “Foi paixão à primeira vista”, segundo ele. Começou a trabalhar como sapateiro e colocou seu nome como referência nacional no tradicionalismo gaúcho. Ele aqui chegou no embalo do ciclo da madeira, fazendo o mesmo percurso de milhares de outros trabalhadores que, em meados do século passado, ´subiram a serra´ para tentar melhor sorte na vida. O mesmo aconteceu com Dilma Deni, professora de Palhoça, que chegou na Encruzilhada em 31.03.1960. Logo depois, Santo conheceu Dilma, com quem se casou após namoro de seis meses. À noite, depois das aulas, Dilma o ajudava a fabricar e consertar calçados. O casal teve os filhos Dauri, Marcelo, Fátima e Fabrícia, e sete netos.

UM DIFÍCIL COMEÇO
Para chegar a Otacílio Costa, o então jovem Folchini fez a pé os mais de 70 km entre Grão Pará e Bom Retiro. Depois de subir a Serra do Corvo Branco, pegou carona em caminhões até o distrito de Índios e, dali, veio de ônibus até a Encruzilhada. Com vontade de trabalhar, bateu muito solado na sapataria de Oracides Coelho, seu primeiro emprego. Com o irmão Zulmiro, comprou a casa do delegado Paulino Tomaz, onde instalou sua própria sapataria, enquanto o sócio se estabeleceu com um boteco.
Seu Santo fez sapatos ´de verniz de bico fino´ para a maioria dos primeiros moradores do Bairro Poço Rico. Em 1966, colocou a Loja Fátima, na Vila Pinheiros, e em 1974 comprou a ´Casa Lisboa´, no atual Centro Administrativo, passando então a comercializar também tecidos, roupas e brinquedos.

A ´GRIFE´ FOLCHINI
Ainda na década de 70, seu Santo tinha sete sapateiros que fabricavam cinco mil botas por ano, vendidas em eventos tradicionalistas em vários estados, chamando a atenção pelo conforto e fino acabamento.
Ao longo de 30 anos, Folchini chegou a ter três ônibus para as viagens de quase todos os fins de semana. O filho Marcelo fazia a região de Mato Grosso do Sul e São Paulo, enquanto ele fazia o Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Devido à falta de mão de obra qualificada, o fabrico de botas e as viagens foram encerrados em 2012. No entanto, no meio gauchesco a tradição do nome Folchini se mantém através da loja instalada na rodovia SC-114, em Otacílio Costa, projetada em estilo único pela filha e arquiteta Fabrícia e frequentada por clientes do país e do exterior.

AMOR INCONDICIONAL PELA FAMÍLIA E PELA CIDADE
O velho sapateiro dizia que tocava gaita, mas na verdade, segundo entregou o filho Marcelo, ele só decorou uma música com um nome esquisito: “Faz um ano que ela foi embora e não voltou”. Mas, se não foi bom de gaita, foi bom de dança. Sua neta Gabriela, que hoje vive em Portugal, contou que quando seu avô estava para completar 80 anos ela o acompanhou em um baile acreditando que pouco depois da meia noite já estariam de volta. Que nada! No fim do baile, às quatro da manhã, a neta estava cansada de tanto dançar com o avô, que tentava ´negociar´ com os músicos para que tocassem mais um pouco...
Santo Folchini recebeu, em vida, diversas e merecidas homenagens por parte de todos os Prefeitos de Otacílio Costa, por tudo que representou para a comunidade. Ele foi um dos membros da comissão pró-emancipação do município. Seu velório foi acompanhado por grande número de políticos, empresários e pessoas comuns da comunidade. Ao lado de seu caixão, no velório, a família colocou a velha mala de madeira, companheira da sua vinda para Otacílio Costa em 1957 e da qual ele nunca se separou. A mala será preservada pela família como preciosa relíquia e amuleto e como símbolo de seu inestimável legado.
Quando lhe perguntei, em 2017, o que o motivou para a vida que escolheu, seu Santo não pensou muito para assim me responder: “Meu aprendizado de vida foi no tranco, porque sempre almejei ser alguma coisa e ter uma família feliz. Se não cheguei a ser tão grande quanto almejei, com certeza tenho a família que sempre sonhei e moro no melhor lugar do mundo”.


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