
“Porque deves saber, Sancho, que as mulheres são a mais perfeita das criações divinas. Que embora sejam mais bonitas que as flores, as estrelas e a lua cheia juntas, são fortes como o aço da minha lança. Por isso, Sancho, é necessário entre os cavaleiros que devemos estar prestos às suas privações, amá-las, cuidá-las como a menina dos teus olhos, porque o nosso mundo sem elas, sem dúvida, estaria completa e irremediavelmente perdido, pois elas, Sancho, são a força da vida e o motor que impulsiona a nossa existência.”
Assim conversavam os cavaleiros Dom Quixote e Sancho Pança, personagens do espanhol Miguel de Cervantes Saavedra em ‘Dom Quixote de La Mancha’, tido como primeiro best-seller da história e primeiro romance da era moderna, publicado em 1605. Há mais de 400 anos, eles sabiam das coisas: mulheres são fortes como o aço e, sem elas...
Por muito tempo a literatura apresentou a mulher como a sociedade desejava que fosse: frágil, delicada, ingênua, carente, submissa, obediente aos pais e depois ao marido. Era preparada para o casamento e por isso era direcionada a aprender prendas domésticas, como tricô, crochê, costura, limpar, cozinhar e cuidar. Enquanto isso os homens desde cedo eram encorajados a cavalgar, caçar, comandar o mundo.
Elas deveriam ser puras de corpo e alma, enquanto eles eram reverenciados por suas conquistas amorosas ou beligerantes. Esta visão contraditória de mundos feminino e masculino não poderia chegar a bom termo.
As mulheres carregam uma vontade indômita de saber, de se aventurar, de buscar melhores condições de vida e isso as direcionou na busca de independência. Deixando para trás preceitos que as moldavam em apertados espartilhos e em ideias atrasadas, elas conquistaram espaços no mundo do trabalho, no campo das ciências, no seio da família, na política. Estão em todas as profissões, fazem descobertas científicas e obras de arte reconhecidas, participam das ações de governo, decidem sua vida familiar. Não aceitam mais ser proibidas de usar um batom, de cortar o cabelo, de sair com as amigas, de estudar. Não aceitam mais abusos e violência.
Ainda assim caem em armadilhas de um mundo corporativo que diz que para ser feliz, a mulher deve ser bonita. Diz que ela precisa ter outra pele, outros cabelos, outras unhas, outros cílios e sobrancelhas, outra altura, outros lábios, outro rosto, outro corpo... Então muitas se submetem a procedimentos estéticos que custam a elas dores, valores e tempo de vida.
As amarras emocionais ficam por conta das escolhas que fazem ao aceitar ideias ditadas por doutrinas de submissão encontradas em todos os campos da sociedade. É preciso buscar informação, apoderar-se de saberes que vão além de crenças e do senso comum.
Então, o que fazer? Qualquer coisa por si mesma. Pode ser crochê, dirigir um caminhão, cozinhar, administrar uma empresa, construir um prédio, praticar um esporte, estudar, costurar, viver. Fazer o que quiser fazer, ser o que quiser ser - reforçando sua vontade, sua coragem, sua força de vida, sua competência em girar o motor que impulsiona toda existência.
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