Secretaria de Obras realiza manutenção na estrada geral da Casa Vermelha |

Querido leitor, não vou lhe perguntar se assistiu à última sessão da câmara, pois obviamente você não a viu. Foi na segunda (26), excepcionalmente no período da tarde — período em que você, eu e o restante dos mortais estávamos na correria do dia a dia.
Você não teve tempo, disposição — nem interesse — em acompanhá-la: azar o seu.
Eu, graças ao trânsito de Fortaleza, acompanhei tudo: sorte a minha.
Devido a esta sessão particular, senti-me apto a compartilhar com você algo que há muito queria: uma teoria de minha autoria. Como é uma teoria incompleta, sem fundamento e pouco metódica, demorei a ter certeza de quando a apresentaria. Enfim, o dia chegou. Essa última sessão foi digna de apresentá-la.
Vale lembrar que, além de especificar relações entre questões distintas, uma teoria visa explicar — e até prever — fenômenos da realidade. Contudo, não tem garantias de estar correta. Dito isto, vejamo-la:
Se compararmos nossos trabalhos realizados em engenharia e arquitetura, veremos que o Brasil não está assim tão distante dos demais países.
Se compararmos nossa medicina, nosso SUS, nosso sistema elétrico, nossa Receita Federal, nosso agronegócio... veremos que até estamos bem colocados em comparação com outros países — quando não à frente.
Agora, quando comparamos nossos políticos aos políticos de outros países, vemos que os nossos não nos representam. Não são o reflexo do que nós somos.
Não fazem o que fazemos. Não ganham a vida como ganhamos. As preocupações deles não são as nossas. Estão deslocados da realidade.
Eles acreditam realmente que o que nos acontece de bom ou ruim depende deles.
Mas nós não lhes damos a mínima atenção — nem a eles, nem ao que falam ou fazem.
E por que, então, os elegemos? Não sei. Talvez porque fomos obrigados por um sistema eleitoral confuso e igualmente deslocado de qualquer lógica que vise nos beneficiar.
Para que função os elegemos? Também não sei.
E nem sei que nível de educação teremos de alcançar para responder a essa pergunta.
Só sei que nosso sistema educacional é um dos piores — entre os piores — do planeta.
Algo cruel, que retroalimenta nossas eleições e pune ainda mais os mais pobres.
O que minha teoria aponta é que nós, que temos de trabalhar mais de quatro horas por semana, aprendemos a fazer contas simples.
Às vezes, aceitamos tarefas para as quais não estamos qualificados, mas quando isso ocorre nos dedicamos ao máximo para não decepcionar quem nos confiou tal responsabilidade.
Não ficamos tentando defender um ponto de vista falando nada com coisa nenhuma.
Não ficamos mudos quando o assunto é sério. Nem defendemos o que sequer entendemos.
Quando vemos algo errado, nos dedicamos a entender as causas e as possíveis soluções.
Já na política, por meses algo pode estar para análise.
Os que são a favor sabem que não precisarão defendê-lo — porque sabem que os que são contra também não o lerão. E, se lerem, não o entenderão a ponto de pôr em xeque sua veracidade.
No dia da decisão, basta o teatro. Bastam as falas vazias.
Pode-se inclusive alegar ignorância, falta de tempo ou de preparo.
Pode-se elogiar outras qualidades do suposto responsável — ou simplesmente rebaixar a de outrem.
Todo político sabe de antemão que nenhuma conversa séria ocorrerá.
Que ninguém terá lido, comparado ou esmiuçado. E, principalmente, todos sabem o resultado.
Poderão inclusive dizer que, depois da votação, as diferenças partidárias não mais existirão — e a boa convivência retornará. (Entre eles. E deles conosco.)
Afinal, foi para isso que votamos neles. Foi neles que votamos. Estão ungidos pelo nosso voto.
São a fina flor que livremente escolhemos.
Minha teoria me conforta. Espero que conforte você também. Nossos políticos não nos representam — estão muito abaixo da nossa média. E com isso, posso seguir minha vida. Ignorando-os.
Post Scriptum:
Desculpe, querido leitor, se por acaso pensou que eu resumiria ou comentaria a sessão. Enganei você desta vez. Não sou obrigado a tê-la visto sozinho. Você terá de ir ao YouTube para validar — ou
não — minha teoria.
Ou ignore-a também.
Deixe seu comentário