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A COMUNIDADE PERDE SEU MAIS ANTIGO MORADOR – KIKO DEBOITE

O mais antigo morador de Otacílio costa, o Sr. Armando (Kiko) Deboite, faleceu na segunda-feira, dia 28, aos 94 anos de idade. Até suas últimas horas de vida mostrou muita disposição e alegria, planejando, inclusive, a festa do aniversário para reunir amigos e familiares, no dia 16.03.2023, quando completaria 95 anos de vida. Por conta desses preparativos, há uma semana foi pessoalmente a Taió para convidar seu amigo de infância, Ari Petra.

A história de vida do Sr. Kiko Deboite é realmente digna de todas as comemorações, tanto que seus familiares decidiram que irão realizar a festa de seu aniversário, em 2023, na certeza de que, de alguma forma, ele estará junto para mais uma confraternização com amigos, coisa que gostava de fazer. Sua vida foi feita de luta, de trabalho e de dedicação à família. Só parou de trabalhar na sua lavoura aos 92 anos, depois que seus filhos lhe deram ´bronca´, porque ele não se importava se o tempo estava muito quente ou frio, se chovia ou fazia sol. Não fazia diferença se ia capinar a lavoura, de onde tirava boa parte da alimentação de sua família, ou se ia cortar lenha com o machado.

SEMPRE JOVEM E IRRIQUIETO
Os filhos conseguiram, a muito custo, fazer com que parasse de trabalhar, mas não conseguiram que seu Kiko abandonasse o ritual de preparar e fumar seu cigarro de palha. Até mesmo na véspera de sua morte, só conseguiram convencê-lo a ir para o hospital quando quando deixaram que levasse os ´petrechos´ para preparar seu cigarro (fumo, palha e isqueiro), que lhe foram retirados pela enfermeira. Naquele momento, como que se queixando, olhou para sua filha Eliane, que lhe disse: “Ora, descobriram nosso segredinho. Mas tudo vai ficar bem, pai”. Seu Kiko abaixou os olhos, aparentemente conformado.
Ele era assim. Seus prazeres estavam nas pequenas coisas, como um copo de vinho no almoço, para apressar a soneca diária, o cigarro de palha e a sopa de galinha caipira com o macarrão caseiro feito por sua amada esposa Terezinha. Era este espírito sempre jovem que o carregava, ainda depois dos 90 anos, para festas e bailes gauchescos e fomentava a vontade de viver entre seus familiares e amigos, cantando e contando suas histórias e repassando a eles suas experiências de vida.

UM CASAL FELIZ
Em 2025 o casamento de Kiko e Dona Terezinha completaria 60 anos. Eles viveram juntos sempre na mesma propriedade, na estrada que conduz ao Parque Cambará, onde cultivavam lavoura e criavam gado e galinha, obtendo, assim, carnes, leite, queijo, ovos e diversos produtos hortigranjeiros.
Ele tinha orgulho de costumeiramente compartilhar mesa farta e boa com seus 4 filhos: Luiz, casado com Marisa Estoele; Adilson, casado com Estirle Antunes; Amilton Ricardo, casado com Leni de Souza; e Eliane, casada com Estrogildo (Dinho) Sabino, e com seus 9 netos e 3 bisnetos. O neto José Eduardo resumiu, há algum tempo, o que toda a família pensava sobre Kiko e Terezinha dizendo que eles “são pessoas humildes, do bem, simpáticas e alegres”. E concluiu: “Tenho muito orgulho deles”.

LONGA E EXEMPLAR HISTÓRIA
Todos adoravam ouvir suas histórias, especialmente sobre sua vida. Seu Kiko nasceu entre Serro Alto e Cadeado em 16.03.1928, e aos cinco anos de idade veio morar com seus pais, Luiz e Angélica, na única casa que havia na área que hoje forma o perímetro urbano de Otacílio Costa. Era uma casa branca, no local onde agora está a Prefeitura, daí por que a área foi denominada Bairro Casa Branca. “Não tinha vizinhos, não tinha nada. Era só carreiro e um taquaral fechado”, lembrava seu Kiko.
Seu pai trabalhou como ´feitor´ dos roçadores na derrubada do mato e das taquaras, formando o carreiro para possibilitar a continuidade da abertura da estrada que saía de Lages em direção a Rio do Sul. O próprio Kiko, quando criança, trabalhou por seis anos como cantoneiro ou tapador de buracos. Naquela trilha passavam comboios de 10 a 12 carretas, puxadas por parelhas de até seis cavalos, que levavam de Lages para Trombudo Central cargas de charque, pinhão, maçã e pera, e traziam mandioca, açúcar, laranja, banana e cachaça. Já os tropeiros que começaram a cruzar por aquele caminho levavam tropas de cavalos, mulas, bois e porcos.
Eram tempos difíceis e perigosos. Os trabalhadores que abriam a estrada dormiam à noite sobre colchões formados com vassouras e capim, em terrenos e trilhas cercados de matas fechadas e taquarais, ponde onde circulavam, às escondidas, grupos de índios, chamados de bugres, que nem sempre se mostravam amistosos.

SEMPRE OTIMISTA E FELIZ
Quando tive o prazer e entrevistar seu Kiko, em 2016, lhe perguntei o que ainda esperava da vida, depois dos 90 anos. De imediato, respondeu: “Viver! Vou continuar vivendo, um dia depois do outro, tranquilo e feliz”. E completou: “Se tivesse que recomeçar a vida, iria fazer tudo igual ao que sempre fiz, porque eu e a Terezinha nunca brigamos, temos quatro filhos, temos netos, todos com saúde. Temos mesa farta. Todos trabalhamos e nos divertimos juntos. Prá que vida melhor?”.
Ao partir para outro plano, seu Kiko não se queixou de dores e estava amparado por familiares. A ele, a comunidade otaciliense deve gratidão, respeito e consideração por seu exemplo de vida. Se a felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso que fazemos daquilo que temos, então o Sr. Kiko Deboite foi, de fato, um homem muito feliz em sua passagem por essa vida. E isso é o que agora conforta seus familiares e amigos.

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