Cultivo de Plantas Medicinais é tema de curso no Cras de Otacílio Costa |
É surpreendente o empresário Luciano Hang vir a público para fazer um alerta: ao descobrir um aumento preocupante no número de funcionários pedindo demissão para sacar a rescisão e pagar dívidas geradas por jogos de azar online, apostas esportivas ou bets: “Não existe dinheiro fácil, apenas o trabalho diário. Não comece a jogar, pois isso pode ser o começo do fim.”
Dados recentes do Banco Central mostram que são gastos R$ 20 bilhões por mês em plataformas de apostas online, somando R$ 240 milhões por ano. Hang destacou que o vício começa com pequenas apostas e rapidamente toma proporções maiores, levando as pessoas a comprometerem todo o salário nos jogos. Seu alerta foi para seus mais de 20 mil empregados e também para todos os brasileiros.
Economistas do Itaú divulgaram em outubro/2024 um estudo que mostra que a cada R$ 24 bilhões em apostas, os brasileiros receberam apenas R$ 200 milhões. Um dado preocupante levantado pelo Banco Central é que só em agosto de 2024 beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões de reais com apostas na jogatina. Jogos aparentemente inocentes, com o nome de ‘Tigrinho’, ‘Dragão’, ‘Aviãozinho’ seduzem pessoas de todas as idades.
Influenciadores mirins divulgam bets, e vício em apostas ameaça inclusive crianças e adolescentes, que perdem até R$ 5 mil e, levados ao desespero, chegam a tentar ou cometer suicídio. 13, 74% de adolescentes e jovens brasileiros com 16 anos ou mais jogam nas bets.
A perda de quantias bem maiores tem levado adultos a perder dinheiro, bens, emprego, família, sanidade e até a própria vida, já que o jogo em apostas é o que mais vicia depois da bebida e outras drogas. Estudos apontam que o vício em bets ameaça a saúde mental e o orçamento familiar.
Em 2018 o governo Temer legalizou as bets, sem regulamentar sua legislação. Agora, em 2024, o governo faz a regulamentação das bets que operavam à margem da lei, com faturamento bilionário, com quase todas as empresas tendo suas matrizes no exterior e consumidores entregues à própria sorte em caso de problemas ou fraudes.
Ao governo interessa a regulamentação, pois cada uma da 113 empresas interessadas terá de pagar R$ 30 milhões aos cofres da União pela licença; numa geração de impostos – cerca de R$ 3 bilhões – sem produção de riqueza.
O jogo das bets envolve muito dinheiro para quem nada produz, não passa de jogo de azar – do tipo que é investigado desde 1982, tendo no Congresso a CPI das Apostas, entre outras; apurando manipulação de resultados (de jogos de futebol), lavagem de dinheiro, fraude, suborno, crime organizado...
Boa parte das bets ou casa de apostas agora liberadas no jogo são multinacionais que já participaram dos mercados europeu e americano, como a grega Kaizen, dona da Betano, e a britânica Bet365. Quase todos os times brasileiros, de primeira e segunda divisão pertencem às bets ou são patrocinados por elas.
No Brasil em que os torcedores se consideram doutores conhecedores de futebol e em prever resultados, o terreno é fértil para os casos de pessoas que desenvolvem compulsão em apostas. Em 2023, 22 milhões de brasileiros fizeram apostas em bets, o que representa 10,83% da população.
Em junho/2024 a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo concluiu um levantamento que mostra que 63% dos adeptos de jogos em bets já comprometeram a sua renda, 64% usaram o dinheiro da sua principal renda neles, 19% já deixaram de fazer mercado para apostar e 73% deles pertencem às classes C,D e E.
Cerca de 1%, ou 2 milhões destes apostadores já são dependentes e um terço de apostadores em bets está endividado, com o nome sujo. Há procura pelo programa Jogadores Anônimos, que oferece tratamento para jogadores compulsivos; os que reconhecem que perderam o controle sobre decisão de apostar, de perder sempre mais.
No último 4 de outubro a Confederação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo apresentou ao Ministério da Justiça e Segurança Pública um estudo sobre as apostas nos cassinos online. A pesquisa concluiu que mais de 1,3 milhão de brasileiros estão inadimplentes por causa das apostas em cassinos virtuais.
Os apostadores já gastaram cerca de R$ 68 bilhões em jogos em 2024, e o CNC estima que o comércio enfrenta um prejuízo anual de R$ 117 bilhões em decorrência deste cenário. O crescimento vertiginosos das bets, que já afeta o mercado de varejo no país, preocupa a iniciativa privada e o poder público.
Economicamente, é queda de renda brutal, em que pessoas perdem produtividade, enriquecendo poucos. As casas de apostas patrocinam veículos de imprensa, empresas de mídia, jogadores de futebol, influenciadores e artistas, jornalistas, youtubers e podcasts, políticos e empresários.
Há quem considere a regulamentação das bets uma solução, já que ela conterá excessos, diminuindo irregularidades. Mas solução para um problema que envolve tantas consequências negativas nas vidas das pessoas e da sociedade – nas esferas pessoal, familiar, financeira – está longe de atender a todos os envolvidos. Poucos continuarão enriquecendo e muitos continuarão perdendo neste desigual embate de forças de tão contrários objetivos. Afinal, a banca sempre ganha!
“Acho que todo tipo de jogatina acaba apostando que alguém, em algum lugar, é um ‘otário’ e por isso nós podemos nos valer dele. É o abuso de um ser humano pelo outro, principalmente os mais vulneráveis.” Carmen Lúcia – presidente do TSE
Fontes pesquisadas: CNC Notícias/Globo 100
Revista Veja. Ed. 2907/Agosto de 2024 e ed. 2914/outubro de 2024. Editora Abril
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