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A política não se move apenas pelos discursos inflamados no Congresso ou pelos planos de governo que prometem transformar a realidade. Ela se move pela simbologia. O eleitor médio não vota com base em teses acadêmicas ou gráficos de crescimento econômico – ele vota na identidade que sente pertencer. É assim que se ganham eleições na era da política visual, onde a construção narrativa acontece antes no campo da semiótica do que nos palanques tradicionais.
Foi exatamente isso que vimos na recente “guerra dos bonés” entre governo e oposição. E se alguém ainda acha que isso foi um episódio irrelevante, ainda não entendeu o jogo. O boné azul do governo e o boné verde e amarelo da oposição não são apenas acessórios. Eles são um novo tabuleiro sendo desenhado para 2026. E dentro desse tabuleiro, cada peça precisa ser analisada estrategicamente.
Desde 2018, o bolsonarismo apropriou para si a bandeira do Brasil como símbolo de identidade política. Verde e amarelo deixaram de ser apenas cores da pátria e passaram a carregar um pertencimento ideológico. O governo Lula, por sua vez, sempre se apoiou no vermelho e nas bandeiras de movimentos sociais.
A entrada do azul na equação não é acidental. O governo não quer reativar o vermelho, pois sabe que a cor já traz reações polarizadas e, em vários setores, rejeição automática. Ele também não pode disputar diretamente o verde e amarelo sem parecer reativo. Assim, o azul surge como um “caminho do meio”: uma nova cor, um novo signo, um novo código.
O boné azul do governo com a frase "O Brasil é dos brasileiros" não é apenas um adereço. Ele é um teste. Uma tentativa de criar um novo imaginário político que dialogue com um eleitor médio, cansado da polarização, mas que ainda sente a necessidade de pertencer a algo. A grande questão sobre o boné azul do governo é se ele faz parte de uma estratégia bem desenhada para longo prazo ou se foi apenas um movimento tático momentâneo.
Se for estratégia, o governo está tentando criar um novo símbolo para sua base e para um eleitorado mais amplo, mostrando que a esquerda parece estar, finalmente, entendendo o jogo no ambiente digital. Neste caso, o boné pode ser apenas o primeiro passo de uma identidade visual mais estruturada para 2026.
Se for apenas tática momentânea, foi uma resposta impulsiva ao retorno do Congresso, sem planejamento de continuidade. Neste caso, o movimento será esquecido e o boné se tornará um acessório sem impacto.
O tempo dirá se isso é um movimento estruturado ou apenas uma jogada de ocasião. Mas, se for apenas tática, é um erro estratégico, porque mexer com simbologia política exige coerência e repetição, e se o governo lançar essa ideia e depois abandoná-la, terá perdido uma oportunidade de consolidar um novo território visual e emocional para sua comunicação.
Para além da guerra dos bonés, esse episódio reflete algo maior: a política brasileira continua cada vez mais baseada na identidade e menos no conteúdo. O eleitor médio não está interessado em teses complexas de política econômica. Ele quer pertencer a algo. Quer ter uma imagem com a qual se identifique.
O bolsonarismo entendeu isso muito bem em 2018, ao criar uma identidade visual forte e fácil de replicar. O PT sempre teve uma base consolidada, mas nunca trabalhou tão bem a identidade simbólica como o adversário. Agora, ao que tudo indica, tenta entrar nesse jogo de maneira mais estruturada.
Fato é que a guerra dos bonés é um ensaio para a grande batalha de 2026. Se o governo sustentar esse movimento e construir uma narrativa convincente por trás dele, pode estar moldando um novo campo de identidade para sua base. Se não sustentar, terá sido apenas um capítulo irrelevante em uma disputa onde a oposição continua jogando com as mesmas cartas – e, até agora, vencendo no campo simbólico.
No final das contas, o eleitor brasileiro segue como espectador de um jogo onde símbolos falam mais que propostas. E, enquanto isso, a política continua a ser travada não apenas nas urnas, mas nas imagens, nas cores e, agora, nos bonés.
Se há algo que podemos aprender com essa disputa é que, no Brasil, um acessório não é apenas um acessório. É uma bandeira. E quem entende isso, entende a nova política.
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