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30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima

Coluna publicada no jornal impresso no dia 20/11

Não é fácil falar da COP30. Primeiro porque, como disse meu filho, “ninguém está acompanhando esse negócio, pai”; estranho, mas depois exploramos melhor essa impressão. Segundo, porque falar do clima virou algo extremamente politizado.

Um professor de economia me disse certa vez que a diferença entre o clima e a bolsa de valores é que, ao analisar a bolsa, você pode influenciar o resultado — já o clima, “não importa o quanto olhemos para ele, o resultado não vai se alterar”. A imensa maioria dos presentes na COP30 discordaria dessa ideia. Desde a ECO-92 avançamos muito: tratamentos de efluentes e de lixões, projetos ambientais em hidrelétricas e processos mais responsáveis mostram que observar e analisar o ambiente muda, sim, o resultado. Contudo, discordar faz parte: alguns ainda acreditam que o buraco na camada de ozônio foi uma grande invenção do capitalismo para vender geladeiras; outros que, hoje, ele praticamente inexiste em função dos cuidados com os CFC.

A questão geracional é complexa. Quando eu era adolescente havia um desenho animado chamado “Capitão Planeta”, que era o líder dos “EcoChatos” — a discussão ambiental era recente. Nossos pais e avós tinham a missão de “dominar o meio” para torná-lo habitável; era uma mentalidade típica de um país em industrialização. Fizemos muitas besteiras e foi preciso pôr o pé no freio. Hoje, sabemos que a população mundial passou de 2 para 8 bilhões em cem anos, mas que agora tende a se estabilizar: as prioridades mudaram. As gerações mais jovens talvez não se interessem pelo blá-blá-blá das conferências, mas entendem que ações individuais e locais importam muito mais.

Não vamos longe: nossa cidade recicla menos de 3% do lixo que produz. Minha geração surtaria se esse índice fosse de uma fábrica; quando se trata da nossa própria casa, muita gente não liga.

Quanto à politização, creio ser fenômeno relativamente recente. Conheci professores “de esquerda” que, na prática, pouco se interessavam pela pauta ambiental — debatíamos mais a divisão dos meios de produção do que sua necessidade de expansão. Hoje, empresas sérias melhoram sua reputação com medidas ambientais — e isso reduz práticas degradantes. Há ainda a pressão dos clientes, as normas e os ganhos de produtividade envolvidos.

Ou seja: talvez valha mais discutir qualidade de vida local do que quantas árvores foram derrubadas e quanto óleo diesel foi consumido nessa COP30. A questão não é só o consumo dos recursos naturais, mas a responsabilidade ambiental ao fazê-lo.

O extremismo não nos fará avançar. A discussão não é simplesmente se devemos explorar a margem equatorial, mas quais benefícios serão entregues às comunidades locais. Não se trata de negar minerais raros para a produção de energia limpa, e sim de definir como explorá-los. Não é discutir porque nos custa tanto fazer a COP30 na região mais miserável do país, mas porque essa região ainda vive nessas condições. Nesse campo, a EMBRAPA tem papel central: os ganhos de produtividade do agro no país são indiscutíveis e, em grande parte, resultado do trabalho técnico dessa instituição. Aliados à regularização fundiária pelo INCRA, há avanços reais na qualidade de vida. Por que isso não está entre os temas centrais da COP30? E como ampliar esses ganhos para Norte e Nordeste?

Um grande amigo, Fernando Gross, que está lá, me disse: “Olhando de fora, sempre achei essas COPs muito blá-blá-blá; estando aqui vejo diferente. Talvez não no macro, mas no micro: há muito trabalho com comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas — como rastrear cada árvore que produz castanha.” Fico com essa imagem.

Não são as grandes questões, são as pequenas. São os avanços locais que importam. São as ações individuais. Menos blá-blá-blá e mais estudo sério.

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