
Será que somos donos da verdade? Ou o erro sempre está no outro!? Decida, como sempre você fez
Coluna publicada no jornal impresso no dia 13/03/2025
Imagine que você precise opinar sobre um assunto simples: separar garrafas de vidro e papéis dos restos de comida, por exemplo. Ou decidir se a licitação dos vigilantes das escolas deveria ter sido iniciada agora ou antecipadamente ao início das aulas.
Agora, imagine que precise opinar sobre algo que conhece, mas sem ter tanta certeza do que deveria ser feito. Reciclamos menos de 3% do nosso lixo por preguiça ou inaptidão ao separá-lo corretamente (culpa nossa), ou porque o poder público não disponibiliza lixeiras, coleta ou destinação adequada (culpa nossa também)?
E se precisar opinar sobre algo que deseja ver realizado, mas sem uma ideia clara de como isso deve acontecer? O desassoreamento de um rio, calçadas bem-feitas, avenidas sem buracos ou um sistema de esgoto funcional.
Em qualquer um desses casos, a tendência é buscar, interpretar e relembrar informações de maneira seletiva, favorecendo apenas aquilo que confirma nossas crenças e ignorando ou desvalorizando o que as contraria. Esse fenômeno tem nome: viés de confirmação. E, na era da internet, os algoritmos reforçam esse viés ao personalizar o conteúdo que consumimos, criando bolhas informacionais. Nessas bolhas, só vemos o que reforça nossas convicções, ouvimos “especialistas” que pouco ou nada conhecem do assunto, mas que, ao pregar para os já convertidos, soam coerentes. Enquanto isso, aqueles que realmente conhecem o tema sequer têm a oportunidade de falar, pois não fazem parte do nosso círculo.
Essa tendência não é nova e nem exclusividade da nossa última sessão da câmara. Em 1789, durante a Revolução Francesa, os deputados também se dividiram fisicamente no salão:
O problema é que essas definições variam conforme o contexto histórico e político. Variam conforme os interesses de quem está na conversa e, no caso da política, conforme os benefícios eleitorais.
Tomemos o próprio conceito de direita e esquerda como exemplo. Na Revolução Francesa, a burguesia era progressista e combatia a monarquia, enquanto a nobreza e o clero representavam o conservadorismo. Já no século XIX, com a consolidação do capitalismo industrial, a burguesia se tornou a nova elite econômica. Seus interesses passaram a se alinhar mais com a manutenção da ordem, da propriedade privada e do livre mercado – características que, no século XX, foram associadas à direita política. Ou seja, o que era revolucionário em 1789 tornou-se conservador em 1900. E, quer gostemos ou não, essa dança das ideologias continua até hoje.
E agora? Bom, o primeiro passo já demos: não podemos mais ‘desver’ essa realidade, nem prender esse gênio de volta à lâmpada. O mais difícil vem agora. Precisamos conversar com pessoas que pensam diferente de nós, ouvir músicas que nunca ouvimos, pegar um caminho diferente para casa, ler um livro de espectro político oposto ao último que lemos, assistir a uma reportagem daquele jornalista que não gostamos, questionar de onde aquela boa alma do grupo de WhatsApp tirou aquela informação. Em suma: pensar por conta própria.
E se ainda não o irritei o suficiente, vale lembrar: por mais que estudemos e busquemos nos informar, provavelmente continuaremos caindo nesse viés. Mas não acredite em mim. Afinal, talvez eu também esteja preso ao meu próprio.
À direita do rei sentavam-se os defensores da monarquia, do conservadorismo e da manutenção da ordem tradicional.
À esquerda, ficavam aqueles que defendiam mudanças, reformas sociais e, mais tarde, a república.
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