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A cozinheira autodidata que 'descobriu' e lutou pela criação de Otacílio Costa

Conheça a história de Darci Chaves Pereira, uma das principais articuladoras para a emancipação de Otacílio Costa

Empregada doméstica, cozinheira, confeiteira, ativista, mãe? Essas foram algumas das ocupações durante os 76 anos de Darci Chaves Pereira, uma das fundadoras de Otacílio Costa.

Nascida em Riachuelo, localidade de Lontras, mudou-se, em 1955, acompanhada dos pais, José e Ema Chaves, e de seus irmãos, para as terras da Encruzilhada, no que viria a ser, um dia, Otacílio Costa. "Quando eu cheguei tinha umas cinco ou seis casas, no máximo. Aqui no Fátima tinha duas. Era como se fosse o descobrimento do Brasil", conta Darci.

Logo aos nove anos, Darci começou a trabalhar como empregada doméstica na casa do tio. Aos 18, se tornou cozinheira na Vila Brasília, na casa dos americanos diretores da fábrica de papel. "Foram seis anos de trabalho. Tudo correu maravilhosamente bem, eram ótimos patrões". Pelos bons serviços prestados, ela chegou a receber proposta para ir embora para os Estados Unidos, mas o pai não permitiu.

Luta pela emancipação

Ao lado de Ary Espindola, foi uma das principais articuladores da emancipação de Otacílio Costa. Darci conta que, enquanto Espindola ia para Florianópolis negociar com o então governador, Espiridião Amin, ela ficava na cidade, conversando com os moradores sobre a possibilidade de separar Otacílio Costa de Lages. "A gente trabalhava dia e noite. Apesar de ganhar cada paulada, vencemos a batalha".

Para saber a preferência dos cidadãos, foi realizada uma eleição, no colégio Elza Deeke. Duas opções foram postas à mesa: "sim", aceitava a emancipação, e "não", rejeitava. Segundo Darci, o "sim" venceu com uma diferença considerável.

A recompensa veio e, no dia 10 de maio de 1982, pela Lei número 6.059, Otacílio Costa estava oficialmente separado de Lages. Por seus trabalhos, Darci recebeu o certificado de fundadora do município, que guarda com muito orgulho junto ao título de cidadã otaciliense, outorgado a ela em 2019.

Mesmo com o convite da população, não concorreu às eleições. "Não me serve essas coisas, porque eu falo demais e, se é pra abrir a boca, eu abro mesmo". Apesar de não ter seguido a carreira pública, se orgulha de sua participação na emancipação: "Evoluiu muita coisa, me sinto muito bem por ajudar".


A cozinheira autodidata

Quando perguntada sobre quando aprendeu a cozinhar, Darci não sabe apontar de onde veio a paixão pelas panelas. "Eu nunca aprendi com ninguém, eu nunca fiz um curso, eu acredito que tem duas pessoas que trabalham comigo: Deus e Nossa Senhora".

Com a experiência adquirida na casa dos americanos, por proposta de seu marido, Manoel Ceniro Nascimento Pereira, montou um estabelecimento onde hoje é o Supermercado Albino. "O Cenir chegou e perguntou se eu não queria abrir uma pizzaria, ou panificadora, algo do tipo. Eu falei que sim, pois nunca tive medo de trabalhar. De repente, a gente não dava conta de fazer pizza, pão, bolo? tinha época de eu ter cinco, seis empregadas trabalhando comigo". Darci conta que só saiu dali por conta da enchente de 1983, que acarretou na perda do estabelecimento e também forçou sua mudança para a casa onde vive atualmente.

Mesmo com as adversidades, não parou de trabalhar. Começou a fazer pastel, até que recebeu um pedido de um menino, o qual não lembra o nome, que pediu 10 pastelões, e aí iniciava o Coquetéis e Congelados Darci: "Tinha dia de eu fazer 40, 50 pastelões numa noite. Hoje eu passei a parte de salgados para o Toco [Edvanir Chaves Pereira] e fiquei com a parte de doces".

Dona de uma culinária que prima pelos produtos caseiros, Darci conta que a comida marca as pessoas: "Tem gente que liga aqui pra casa e me pede bolo que eu fiz há 15 anos atrás, e eu faço, parece que tem alguém que buzina na minha cabeça e eu faço o bolo igualzinho".

Um recado para o futuro

Aos 76 anos, dona Darci não guarda nenhum arrependimento: "Nunca fiz nada de errado para ter esse sentimento, tinha pessoas que me odiavam, mas o problema era deles, não era meu, porque se eu falar de você, eu não tô falando de você, eu tô falando de mim mesmo".

O recado que deixa para às futuras gerações é de ter humildade e pensamento positivo sempre: "Não pisar em cima de ninguém e sempre ser positivo com tudo que for feito. Outra coisa, em primeiro lugar pôr Jesus Cristo na frente, o resto a gente corre atrás".


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