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Nós amamos as promessas (mesmo que elas nunca cheguem)

Dizem que o brasileiro é apaixonado por futebol, carnaval e política. Mas a verdade é que o que a gente ama mesmo são promessas – aquelas bem embrulhadas, com um laço bonito e que carregam o cheiro inebriante de um futuro melhor. Entregas? Ah, gostamos também, mas elas costumam vir sem a mesma poesia e, na prática, com bem menos impacto emocional e, definitivamente, sem lembranças.

Os políticos já perceberam isso e a maioria usa exatamente este tipo de estratégia. Eles sabem que, para ganhar corações e votos, basta oferecer o sonho, e melhor ainda se vier com alguma comissão. Prometer o céu, pintar o inferno do adversário e, entre um comício e outro, garantir que o pão e o circo estarão garantidos. Afinal, quem quer ouvir sobre orçamentos apertados, prioridades estratégicas ou decisões difíceis? O eleitor prefere o lirismo de um “vai ser diferente” ou o clichê do “ninguém fica para trás”.

A questão é que, na era das narrativas, nem sempre basta (ou nem precisa) ser competente; é preciso ser uma história ambulante. A política moderna é como uma flor com um cartão, mas o que importa não é a beleza do buquê, e sim o que está escrito no papel. O que um candidato entrega em palavras acaba sendo mais valioso do que o que entrega em concreto. Não é à toa que prefeitos fazem sucesso no TikTok enquanto rodovias esburacadas acumulam poeira. O eleitor quer emoção e conexão, não planilhas de Excel ou relatórios de gestão.

Essa é, inclusive, a maior lição que alguns candidatos derrotados, nas últimas eleições, aprenderam. Trabalhei em algumas campanhas e vi candidatos excelentes perderem, exatamente, por conta disso. Não aceitaram ‘prometer’ demais, por questões de princípios. Seus princípios venceram, mas eles acabaram perdendo.

E sabe quem ganha com isso? Aqueles que sabem usar o espetáculo e a narrativa a seu favor. O candidato que aparece suando a camisa na praça pública, mesmo que o suor tenha sido estrategicamente aplicado com um borrifador logo antes da foto. O que fala de empatia enquanto negocia nos bastidores com quem sempre criticou. O que promete reformas impossíveis enquanto assiste ao eleitor se apaixonar pela ilusão. Na era das narrativas, quem sabe ser mais demagogo tem a vantagem, e o grande problema disso tudo é que promessas não pagam as contas, e quando a realidade assume o controle, as narrativas caem, mas aí os demagogos já estão em seus devidos cargos até o fim do mandato.

Enquanto isso, as entregas concretas – aquelas que realmente mudam a vida das pessoas – seguem sendo ignoradas. Lembra daquele prefeito que asfaltou sua rua? Provavelmente você não, porque ele não fez vídeos dançando no Instagram ou uma thread explicando como o asfalto vai melhorar sua vida. Ele só fez o trabalho. E trabalho, convenhamos, é muito sem graça na política.

E o Eleitor?

Mas antes que você aponte o dedo para o político de plantão, é hora de olhar para o espelho, porque você, eleitor é cúmplice dessa dinâmica. Somos nós que escolhemos quem sabe vender melhor as promessas, e não quem entrega o resultado. E ainda temos a ousadia de reclamar quando nada muda. O brasileiro ama a esperança, mas odeia o tédio das soluções reais.

Promessas são lindas, mas não enchem barriga, não asfaltam ruas e, certamente, não garantem o futuro brilhante que nos vendem. Então, da próxima vez que você ouvir aquele discurso emocionante e cheio de frases de efeito, pergunte-se: e quando a flor murchar, o que restará no cartão? A resposta, provavelmente, será o vazio de sempre. Afinal, no Brasil, amamos tanto as promessas que nem percebemos que somos nós, eleitores, os maiores responsáveis por mantê-las eternamente no papel.

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